Mecanismo Íntimo estabelece um diálogo entre resíduos industriais e vida orgânica. A estrutura central, composta por um sistema de escapamento de caminhão curvado e fragmentado – encontrado enferrujado, marcado pelo tempo e já portador de uma vida híbrida – repousa sobre finos suportes metálicos, criando uma sensação de suspensão. Essa disposição gera espaços de circulação e permeabilidade para quem caminha ao redor da escultura, permitindo que o corpo do espectador se insira no campo da obra.

A superfície fria e metálica contrasta com a maciez do musgo, estrategicamente disposto ao longo da estrutura, evocando a simbiose entre o natural e o produzido pelo homem. Esse atrito entre elementos orgânicos e industriais tensiona a noção de “mecanismo”, que aqui não se limita a um aparato

técnico, mas se abre para a ideia de organismo expandido. O escapamento, dispositivo pensado para exalar resíduos de combustão, se converte em suporte para um outro tipo de respiração: a respiração da matéria viva que se aloja nas fissuras do metal.

Nesse encontro, a obra convoca uma reflexão sobre temporalidades distintas: o tempo acelerado da máquina, regido pela lógica produtiva e funcional, e o tempo lento do crescimento vegetal, que insiste em sobreviver e infiltrar-se nos interstícios da matéria morta. Trata-se de uma coreografia entre entropia e vitalidade, na qual o metal carrega as marcas de sua obsolescência, enquanto o musgo afirma sua potência de regeneração.